Podem chamar de drama ou carência, eu prefiro chamar de cansaço, ou solidão.
Aqui vai mais um romance da minha vida.
Lá estava ela acordando cedo em pleno domingo, preparando-se para ir à chácara de uma amiga que nao via há tempos.
O clima estava quente, porém agradável.
Encontraría-se com um amigo, e juntos iriam até a rodoviária e de lá até outra cidadezinha onde encontrariam a amiga para assim poderem ir juntos para a chácara da mesma.
Que saudades havia sentido daquela amiga.
Os três tiveram um dia muito agradável, cheio de risadas, brincadeiras bobas, fotos e lembranças.
Já estava escurecendo, deveriam voltar pra casa.
A mesma rodoviária.
Sentaram num banco de concreto, e quase que instantaneamente o ônibus chegou.
Uma fila imediatamente se formou a frente deles.
Ela notou um rapaz na fila, mas nao um rapaz qualquer.
Uma sensação estranha. Aquela sensação, como quando você está assistindo um filme e reconhece o protagonista mesmo sem a história ter se formado ainda.
Ele usava uma camiseta preta com uma camisa cinza por cima, uma calça jeans simples com um all star branco um tanto encardido e segurava uma mochila com a alça em apenas um dos ombros.
"Ele é lindo." - Pensou ela.
Sentaram-se.
Ela e o amigo num banco perto do cobrador, e o rapaz em sua diagonal inferior.
Pelo vidro da janela do ônibus ela podia vê-lo tirar um livro da mochila e começar a ler, calmamente.
Ele tinha um ar sofisticado e intelectual que a deixava ainda mais instigada em observá-lo.

Ela estava suja de terra, cansada e seu cabelo estava bagunçado e um pouco oleoso o que a obrigou a fazer um coque meio frouxo na tentativa de amenizar a situação.
Não deu certo, já que ela nao tinha nenhum amarrador de cabelo e o vento teimava em desfazer seu coque.
De repente ele notou que estava sendo observado, e olhou para ela também pelo vidro da janela.
Ela ficou sem graça e mudou o rosto de direção rapidamente.
Tentou tagarelar com o amigo como de costume, mas nao conseguia ignorar a presença dele.
Num impulso que nem ela mesma saberia explicar o porquê, lentamente virou seu rosto para trás, queria vê-lo. Ele tirou os olhos do livro e também olhou-a.
Ficaram assim, fitantado-se por alguns segundos.
Ela (inevitávelmente) sorriu.
Ele sorriu de volta.
E assim foi o restante do percurso até que ela chegasse em sua cidade.
Ela nao queria descer daquele ônibus, nao queria parar de estudá-lo, de ver seu sorriso, nao queria parar de sorrir para ele.
Desceu do ônibus com aquele aperto no peito.
Aquele aperto que dizia "Você nunca mais o verá, foi só um flerte de ônibus".
Foi pra casa pensando naquilo, tentando conformar-se com a realidade infortúnia.
Mas ás vezes a vida nos reserva coisa engraçadas.
Continua.